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Bagunçado [Parte 2]
sábado, 24 de março de 2012 @ by Victor @ - 22:36



  Eu pensava que ia ser divertido. E até foi, no começo. Imaginei vários jeitos de como essa noite terminaria. Talvez eu tivesse que parar uma briga feia entre Ana e Rodrigo, ou talvez tivesse que convencer a Renata a ficar e me ajudar a tomar conta deles. Mas não imaginei, de jeito nenhum, que terminaria aquela noite sentado na calçada em frente a casa dos meus tios, com a cabeça no ombro da minha melhor amiga. E definitivamente nem cogitei chorar essa noite. Não até estar trancado no meu quarto, pelo menos.
  Ela mexia no meu cabelo e meus olhos estavam fechados, eu respira devagar. Podia dormir ali mesmo, se não fosse pelo frio que começava a me incomodar. Um frio bem mais psicológico, é verdade. Mas esse é o pior. Não há casaco ou cobertor que cure o frio provocado pela falta, não de calor, mas de alguém.
  - Preciso cortar o seu cabelo de novo - ela disse, pegando uma mecha entre os dedos - Você sabe que eu não tenho tempo com a faculdade, devia cortar em algum lugar...
  - Você sabe que só você pode tocar no meu cabelo - falei, resmungando.
  - Pois você terá que conviver com essa bagunça na sua cabeça até eu arranjar tempo.
  - Minha cabeça já está bem bagunçada, o cabelo é só um detalhe.
  Eu fechei os olhos novamente, no silêncio que seguiu.
  -Seu idiota - Renata me deu um soco nem tão leve assim na cabeça, mas eu apenas resmunguei qualquer coisa como "Eu sei". Ouvia-a suspirar e sua mão pousou novamente de leve sobre meu cabelo - O que eu faço com você, hein?
  - Pode tentar me dar umas garrafas de vodka, seria um bom começo.
  Apesar de ter falado sério, aquilo só resultou em outra pancada na minha cabeça.
  - Você ainda pensa nele, não é?
  - Não - eu respondi, me ajeitando em seu colo - Ele não me causa mais nada. Acontece que a minha vida estava bastante bagunçada antes dele, ai ele chega, bagunça mais um pouquinho e vai embora. Só estou tentando ajeitar tudo.
  - E porque você está chorando então?
  Sem perceber, tinha deixado as lágrimas voltarem. Sequei-as, mas outras tomaram seu lugar e logo desisti.
  - É que as vezes você se pergunta se vai ser forte o suficiente pra arrumar tudo depois da tempestade - falei.
  Renata se curvou, seus lábios tocaram carinhosamente a minha testa.
  - Você consegue. Você é uma das pessoas mais fortes que eu já conheci. E você tem a mim para te ajudar.
  Um sorriso bobo surgiu em meu rosto e se refletiu no dela.
  - Não sei o que eu faria sem você.
  - Ficaria chorando pelos cantos - ela riu. Logo em seguida, ouvimos um barulho de algo se quebrando dentro da casa.
  - O que foi isso? - perguntei, preocupado, me levantando.
  - Não sei - ela falou, sorrindo e pegando minha mão - Vamos descobrir. Vai ser divertido.

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